Existe, nos últimos anos, uma comoção e um consenso geral de que a Educação é prioridade para o progresso e para o avanço de uma nação. Considerando o cenário brasileiro, há muitas ações que visam qualificar a Educação Nacional e já temos algumas respostas positivas dos Estados e Municípios nesse sentido. Porém, esse avanço ainda é insignificante diante dos desafios e discrepâncias nacionais, considerando que ainda contamos com diferenças gritantes, se compararmos escola a escola. Se por um lado temos escolas públicas que recebem diversos incentivos e uma rede de apoio – como, por exemplo, os colégios federais – temos, ainda, escolas que atendem quatro séries na mesma sala simultaneamente. E não precisamos ir longe para ver essa discrepância: nosso Estado é berço dessas duas realidades.
As prefeituras, ano a ano, estão buscando aperfeiçoar seus sistemas de educação, sobretudo depois de vários incentivos que vêm de fundos para a Educação Básica. Cada vez mais, professores dos municípios brasileiros são incentivados aos estudos e têm horário dedicado ao planejamento e avaliação de aulas; ou seja, existe uma estrutura que busca a melhora da competência profissional dentro das escolas. A mesma coisa não é praticada no nosso Estado. Há alguns anos, o Estado do Rio Grande do Sul era considerado um pólo de Educação e Cultura. Mas atualmente, apesar da boa qualificação de nossos professores, vemos paulatinamente a queda qualitativa da estrutura escolar.
Infelizmente, com o passar dos anos, nossos secretários de Educação foram tratando nossos alunos como clientela e essa nova relação abriu espaço para a política de que o cliente sempre tem razão. Logo, a Escola e os professores se tornaram vilões do sistema de ensino, já que o educador não tem mais prestígio profissional. A desmoralização do professor, nesse Estado, começa no salário e se estende até a sala de aula. Se existe consenso de que valorizar o professor é prioridade nacional – e, em função disso, foi criada uma Lei que garante o piso mínimo nacional para a classe – vivenciamos a contra-mão disso, uma vez que o Estado é o ilegal da vez, descumprindo a Lei, ao deixar de pagar o piso e ao deixar de permitir que seus professores tenham um terço da sua hora semanal de trabalho dedicada em atividades sem alunos (com planejamentos, aperfeiçoamentos e correção de tarefas, por exemplo). A maior parte das profissões termina seu expediente e vai para casa descansar e cuidar de sua vida pessoal. Com os professores – pelo menos os do Estado do Rio Grande do Sul – isso não acontece, já que é preciso levar boa parte do trabalho para casa: um espaço que não deveria ser dedicado a atividades profissionais.
O baixo salário leva a falta de saúde mental através, principalmente, de dois caminhos. O primeiro caminho é o fato de que os professores, para manter minimamente suas vidas, precisam aumentar a carga horária semanal, muitos trabalhando sessenta horas semanais. Não é possível acreditar que alguém em sã consciência seja capaz de ser eficiente e atento durante sessenta horas semanais de trabalho, ainda mais em uma atividade intelectual. O segundo caminho que leva à falta de saúde mental está ligado ao fato de que o professor suporta uma carga de trabalho que o salário não consegue suprir. O maior motivo de desestímulo dos educadores está no pouco resultado de suas ações frente à sociedade. Nada é permitido ao professor e à escola, de modo que nada pune o que está errado e nada parece colaborar com o que há de bom nas escolas. A estrutura escolar não dá conta de trabalhar com delinqüência, desestrutura social e afetiva, má índole, falta de caráter, violência doméstica, carência material e afetiva, entre tantas outras coisas que são vistas nas escolas. E o professor está sozinho para lidar com essas crises sociais, sem ter preparo técnico e científico para isso. O professor não conseguirá ensinar com qualidade num ambiente que já está doente; ao contrário, o professor passa a fazer parte dessa doença coletiva. Se ao menos houvesse salário digno e tempo para planejar e avaliar a prática no seu horário de trabalho, o professor poderia fazer suas horas semanais, depois ir ao teatro, ler, passear e voltar para sua atividade profissional com a mente sã. Mas o Estado do Rio Grande do Sul não quer seu professor assim, porque ilegalmente não acata uma Lei que valoriza seu profissional e continua investindo apenas 227 reais de salário básico por vinte horas semanais para seus professores.
Salário digno, tempo de estudo e planejamento, dignidade social são pilares para uma educação de qualidade e são a garantia de saúde mental para os educadores. Pois, se os professores que são o material humano que o Estado conta para que a Educação aconteça não recebem o menor respeito, como se pode esperar que o aluno o respeite? Como exigir qualidade de um profissional como esse? Como exigir que nossos alunos façam bons exames nacionais?
Enquanto o Brasil inteiro está apostando em uma Nova Educação, estamos vivendo um retrocesso que nos encaminha para um medievalismo. É muito triste ver que nosso Estado está na contra-mão do progresso, da saúde, dos direitos do cidadão, dos valores essenciais para o crescimento social. Desvalorizando a Educação do Rio Grande do Sul, empobreceremos monetariamente, socialmente e culturalmente. E o orgulho desse Estado ficará cada vez mais num passado distante.