Pouco alcance

Há uns meses fiz um comentário em um outro blogue sobre o caso do Rafinha Bastos, defendendo a liberdade de expressão, ainda que sua prática acarrete processos contra a pessoa que disse o que quis (repare que não é uma defesa ao Rafinha). Eu entendo que, quando a pessoa ofendida tem o direito de reclamar e exerce esse direito, as condições da liberdade de expressão estão satisfeitas — a expressão é livre e pode sofrer represália, processo, contraditório –, portanto, não há vitimização das partes nessa história. Bem, até aí é uma opinião, apenas. Posso estar vendo a situação com muitos limites. E estou bem disposta a ouvir quem discorda de mim e está com vontade de debater com argumentos mínimos. Acho bem saudável. Mas esse post não é bem sobre isso.

No referido blogue, um sujeito decidiu expor seu pensamento contrário ao meu comentário — o que me pareceu extramemente interessante, pois eu veria o outro lado do meu argumento. Mas o sujeito que escreveu passou a me ofender grosseiramente, pois, segundo ele, eu não deveria poder falar o que penso. Então eu pensei: “ok, ele também tem o direito de se sentir mordido e explicar seu lado de um jeito mais rude”. Para mim, era um sujeito anônimo, mas, ao que parece, a criatura procurou sobre minha vida no Facebook, ou no blogue ou no raio-que-o-parta para tentar encontrar ofensas a meu respeito. Não acho que seja um conhecido que se escondeu atrás do anonimato, porque das pessoas que eu conheço, não consigo lembrar de nenhuma que mencionaria as coisas que o tal sujeito mencionou.

As opiniões que o cara expôs, achei legítimas. Ele queria expressar sua contrariedade em relação ao que eu penso e ele tem o direito de fazer isso sempre que quiser. Sobre as ofensas, se incomoda quem quer e eu quero ser feliz; não me vejo discutindo com um anônimo e que, justamente por ser desconhecido, não tem importância. Mas duas coisas me deixaram um pouco desconfortáves na referida situação. A primeira, é constatar (mais uma vez) que as pessoas não sabem dizer suas ideias: quando discordam, elas são estúpidas (no sentido de não pensar com algum cuidado a respeito) e não têm argumentos. Fiquei um pouco incomodada com o fato de uma pessoa precisar ofender para esconder que não sabe argumentar. Tá, isso não chega a ser uma surpresa, mas sabe o Programa do Ratinho? Pois é…

O segundo desconforto é o fato de o sujeito se valer de sua liberdade de expressão, o que é ok, mas fazer uma das coisas que eu condeno em nome dessa mesma “liberdade de expressão”, que é faltar com responsabilidade de quem fala. Eu acho que tudo pode ser dito e comentado, mas tudo tem de ter uma assinatura. O cara esse chegou até mim pois eu assinei o post, linkei o post e dei pistas de quem eu era; afinal, se eu emito uma opinião, tenho de ser responsabilizada sobre ela. O sujeito que replicou, não. Ele colocou um nome genérico, não escreveu o sobrenome e não deixou link nenhum sobre como achá-lo. Não vou atrás dele para pedir explicação, mas, se eu quisesse — se qualquer um quisesse — deveria ter o direito de fazê-lo.

Acho que a visibilidade da internet é quase sempre positiva. O direito de saber com quem está falando e o quanto essa pessoa é responsável pelo que diz deveria estar em todas as instâncias, inclusive no jornalismo (que seguidamente publica mentiras e não se responsabiliza / não responsabiliza o autor da “notícia” pelo que foi veiculado). Já tive situações ruins pela exposição na internet, como no caso de um funcionário da Secretaria de Educação que, para me depreciar profissionalmente, buscou informações pessoais nesse blogue, ou seja, um despropósito. Mesmo assim, prefiro o despropósito ao anonimato.

Bem, minha intenção não era dizer que fui ofendida na web, mas quis ilustrar esse caso para ver que a liberdade de expressão é um sonho de consumo, ainda, e todo mundo quer. Mas a contrapartida da responsabilidade sobre quem fala e o que se fala, parece, ninguém quer.