Encher-se de amor

Às vezes eu me surpreendo comigo mesma por coisas (aparentemente) tolas. Na semana da Páscoa, tive um evento em Salvador, fiquei lá entre 18 e 25 de abril e cheguei em Porto Alegre no aniversário de minha avó. O evento em Salvador foi em 18, 19 e 20 de abril, mas fiquei o feridão lá, já que também sou filha de Deus.

Lá em Salvador, nos três primeiros dias, fiquei em um hostel e era vizinha de dois garotos, que também estavam no evento científico e estudam Toponímia. Um dos garotos é o José, que é de Mato Grosso do Sul, mas mora em Brasília e trabalha com língua de sinais. O segundo garoto é o Cézar, que é de Sergipe e trabalha na Universidade de Alagoas com Língua Latina. Tivemos pouco tempo juntos, mas saímos um monte, fomos à praia, dançamos, jantamos, nos divertimos e o pouco tempo foi radicalmente compartilhado. Nos divertimos a valer. Por alguma razão completamente alheia ao meu entendimento, tive uma afeição quase instantânea pelos guris e a simpatia-à-primeira-vista fluiu de forma natural e bela. O mesmo aconteceu com Paterson e Sandra. Conheci Pate na UFBA e o garoto participa de uma comunidade que recebe pessoas desconhecidas, como hóspedes, em sua casa (CouchSurfing.org). Sandra é uma dessas hóspedes. Pate e Sandra são duas outras jóias, assim como José e Cezinha, que fizeram meus dias mais cheios e mais amorosos.

Minha surpresa não é a rápida afinidade, nem a boa disposição que meus novos amigos tiveram comigo. O que me surpreende sou eu mesma. Mesmo tendo vindo de uma cultura cortês e educada, espanta-me que eu tenha tanta disponibilidade para me encher do carinho das pessoas e para encher as pessoas de carinho. Minha amizade com o Ale — que já é um AMIGO há tanto tempo — também surgiu de uma situação tão espontânea e tão intensa e que segue sendo fonte de carinho quase diário. A verdade é que não vivo sem isso. Não há nada que me faça mais feliz do que o afeto compartilhado. Sou um grude em casa e fora, com a família e com os amigos. E os novos amigos surgem desse amor-sem-fim que tenho guardado e não poupo: distribuo. É um lance totalmente piegas e, de certa forma, meio brega, mas dane-se.

As explicações podem ser milhares, desde carência afetiva, até o fato de ter tido uma infância em que eu era o amor-sem-fim de uma família. Mas o afeto é quase um lugar-comum para mim. Distribuo disponibilidade para os bons sentimentos.

As pessoas que eu gosto sabem disso pelo meu olhar, pelo meu carinho, pelo meu toque. Quem me conhece há mais tempo já espera a atitude carinhosa. Até pela mensagem no Facebook eu mostro que tenho um afeto rasgado e cheio de alegria. Domingo escrevi uma mensagem de afeto para Simoninha, antes de ontem para Edninha, ontem para José e Cezinha, um outro post no blogue foi de carinho a Pate, escrevo sobre minha avó e vou disseminando amor por aí. Não sou uma apaixonada, que se frustra a cada perda de interesse: sou eternamente disponível a relações que serão, também, eternas, porque são sempre bem guardadas.

Vou descobrir empiricamente se estou errada. Enquanto isso meu coração segue cheio, ainda e sempre, de muito amor.

==> Esse post não é uma ode a mim mesma. Ao contrário. Esse post é uma ode a quem me faz acreditar (e investir) diariamente que não há nada mais sólido e mais importante do que os afetos que a gente constrói. O bê-a-bá disso foi ensinado pela minha família, mas o exercício desse aprendizado é bem mais plural.

Em tempo!
Quando falo de amor, falo disso:

E disso:

(Essas quatro mulheres — em ordem: dinda, vó, Bi e mã — são minhas rainhas: me cuidam desde o dia que conheci o mundo e me enchem de carinho até hoje. Meu dindo foi, nesse contexto eminentemente feminino, um pai, assim como meu avô. A eles devo a vida e a eles agradeço terem me feito com tanto amor. A foto é especialmente linda, ainda, porque é minha avó com seus rebentos juntos.)

Pepeu, o novo baiano

O Pepeu Gomes costuma ser lembrado por ser ex-marido da Baby Consuelo (ou do Brasil ou da Igreja Ministério do Espírito Santo de Deus, sei lá), ter a música do “ser um homem feminino” ou por ter feito parte dos Novos Baianos.  Os Novos Baianos, por sinal, foram um grupo fabuloso, com uma musicalidade tremenda e seus membros eram todos MUITO acima da média de bons músicos. Algumas das canções que não me canso de escutar são dos Novos Baianos (recomendo com afinco “Swing de Campo Grande” e “O mistério do planeta“) e sempre são ótimas. Os Novos Baianos foram contemporâneos a Led Zeppelin, mas muito mais revolucionários do que os gringos.

Mas ontem vi o Pepeu no programa Infortúnio, com a Funérea, na MTV. O programa é legalzinho e o Pepeu mostrou que segue tocando lindamente a guitarra. O cara é descomunal, AINDA! Mas o que achei mais legal é sua consciência de si mesmo. Ele é doce e generoso (na entrevista, pelo menos), mas não tem falsa modéstia. Ele contou que os caras do Living Colour e do Megadeth convidaram ele para ser apoio (músico contratado) da banda e ele não aceitou. Ele disse que tinha uma carreira consolidada, que depois de tanto tempo tocando mundo afora não caberia ser um artista de apoio. Ele não menosprezou os artistas de apoio, mas foi coerente com a sua grandiosidade. Não foi uma atitude muito humilde, é verdade, mas ele demonstrou um lance que eu achei lindo, que é o orgulho de ser quem ele se tornou.

Outra coisa linda é ver que o Pepeu é capaz de dialogar com bandas bastante diferentes e, aqui, ele pode fazer um rock bem setentista ou uma bossa nova com tintas de João Gilberto que lhe cai bem da mesma maneira. É essa grandiosidade que faz de Pepeu sempre um novo baiano a ser sempre descoberto.