O macho feministo palestrinha precisa morrer.

Por alguma sorte, convivo com homens que não vomitam o quanto é bom ser homem, que viadinho tem de apanhar e fala sobre comer gente por aí. Quero dizer, com isso, que vivo com gente machista, bem, quem não?, mas, pelo menos, menos escrota. E isso é mérito meu, por saber ignorar pessoas nojentas.

Gosto da metáfora da Manuela D’Ávila sobre o machismo ser uma piscina de diferentes profundidades: todo mundo está lá, mas uns molham só os pés, outros se afogam. Claro que gosto de pensar que estou só molhando os pés e ando com os próximos a mim.

Considerando minha prerrogativa, tenho tido especial  falta de paciência com alguns homens feministos. Não vou abordar se de direita ou de esquerda, porque em alguma medida essa régua não serve de parâmetro aqui (às vezes, até sim). O macho feministo palestrinha gosta de dizer que é o cara pela igualdade de gênero, que domina o jargão, que lava louça e que limpa banheiro (quase batendo no peito e causando comoção em boa parte das mulheres). Tudo isso para pedir biscoito. O palestrinha feministo elogia sua gatinha pelo troféu que ela é — “mas eu estou admirando minha mulher por ser esse mulherão!”, ele diz.

O macho palestrinha conta como ensinou muitas coisas para sua parceira, esposa, companheira, crush. Ele ensinou muito porque ele é muito foda, ele se instrui, ele estuda, ele se informa, ele repete notícias e artigos. Como pode alguém não achar o macho palestrinha um feministo culto e interessante? E ela, sua super parceria, não sabe nada de nada, mas por ser tão boa quanto ele, aprendeu tudo, uau! Quer dizer, fica implícito que ele considera sua parceira, ou amiga, ou colega uma pessoa inferior. Ela é companheira, amiga, confidente, forte e ele aprende tudo isso com ela. Ela é especial, porque se presta a ser ensinada por esse homem que prega igualdade e acha sua companheira ótima, afinal, ela aprendeu. As qualidades outdoor (sociais e do mundo do trabalho) são “ensinadas” a ela por ele. As qualidades indoor (domésticas e afetivas) são “ensinadas” por ela a ele.

Logo, fica fácil entender que o macho feministo palestrinha é o quê, afinal? Machista. Claro. Ele exibe uma mudança de parâmetro que não existe.

Durante algum tempo, achei que tinha de dar biscoito para esses homens: “puxa, está se esforçando, pelo menos!”. Mas estou começando a achar que esse tempo (que, para mim, fazia parte da transição de mentalidade, embora chato para burro) já deu. Chega.

A gente já sabe o que é e nomeia rotineiramente gaslighting, mansplaining e manterrupting.  Nesse caso, o feministo palestrinha poderia ser considerado, segundo fontes confiáveis (duas pessoas que conversaram comigo), uma adaptação do mansplaining. Mas tenho achado que não é exatamente, porque estou falando sobre o cara que enche a boca para falar sobre igualdade usando exemplos (que ele segue, porque ele é ótimo) que não servem como exemplos: ele é o feministo perfeito em “coisas de homem” e ela é ótima em “coisas de mulher” e ele é feminista, lógico!, porque admira sua companheira. Não. Não é assim que funciona: uma banana não será azul porque eu disse que ela seria azul; em outras palavras, o cara pode dominar o jargão e, embora isso seja mais do que nada, não significa que seja feminista ou esforçado para não ser machista.

Não sei se esse não é apenas um rancinho meu sobre alguns exemplares específicos de machos fazendo o que uma pessoa próxima disse que era a mistura de mainsplaining com chatice exponencial. Talvez seja simples assim.

De toda sorte, entendo que, conforme a nossa consciência aumenta, aumenta nossa pouca tolerância para o cara que tenta, tadinho. O cara que tenta, que vomita ser um feminista, que fala publicamente sobre como faz seus relacionamentos serem de igualdade me cansou. Não dá mais. Sem tempo, irmão. Não estou podendo nem mais ouvir aluno adolescente com esse papinho.

Acho que parte da evolução e da revolução feminista está relacionada a não dar mais biscoito para macho palestrinha, esse pobre homem feministo esforçado.