Poema do Bruno Cardoso de Melo

Meu amigo Bruno, de Marília-SP, é um garoto muito jovem e escreveu uma poesia bem bonita. É um poema simples, cotidiano, mas muito bem feito, ainda mais considerando sua pouca idade. Tem uma “licença poética” no texto, já que ora ele conjuga com “tu” e ora com “você”, mas ok, como professora de português, os aspectos gramaticais me parecem discretos como um carro alegórico de Carnaval e nem deveriam ser tão chamativos assim, já que o texto é bom.

O poema me lembra o filme “O tempero da vida”, que é bem bonito e mistura a gastronomia com as questões existenciais e essenciais da vida. Bruno faz isso, de outra forma: alia a palavra “temperamento” à palavra “tempero”, o que é uma associação muito interessante, olha só:

 

O temperamento é o fomento
que tempera nossa relações.

Há dias que é tão doce quanto um sorriso.
Há dias que fica indegustável quanto uma indiferença.
Há dias que é amargo e há pessoas que apraziam.

E também há dias que tu provas
pensando em outro condimento.

Há dias, que não há alimento e
então você acaba misturando os sobejos:
Pica umas amizades, espreme alguns desejos
gratina uns pensamentos e cozinha tristezas.

Juntando em um único prato: come com tanta igualdade
que não há possibilidade
 de não se encher de amor.

 

Release do filme, para quem se interessar:

“O Tempero da Vida” é a história sobre um menino que cresceu em Istambul, cujo avô, um filósofo culinário e mentor, o ensina que tanto a comida quanto a vida, requerem um pouquinho de sal para adicionar-lhe sabor… Ambas precisam de um toque de tempero. Mas por causa da guerra, sua família se muda novamente para a Grécia. Fanis cresce e se torna um grande cozinheiro. Trinta e cinco anos depois, ele deixa Atenas e volta para Istambul a fim de rever a vizinhança onde cresceu e seu primeiro grande amor. Então ele percebe que sua vida precisa de um pouco de tempero também.O Tempero da Vida é a história sobre um menino que cresceu em Istambul, cujo avô, um filósofo culinário e mentor, o ensina que tanto a comida quanto a vida, requerem um pouquinho de sal para adicionar-lhe sabor… Ambas precisam de um toque de tempero. Mas por causa da guerra, sua família se muda novamente para a Grécia. Fanis cresce e se torna um grande cozinheiro. Trinta e cinco anos depois, ele deixa Atenas e volta para Istambul a fim de rever a vizinhança onde cresceu e seu primeiro grande amor. Então ele percebe que sua vida precisa de um pouco de tempero também.

 

(Texto retirado de: http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=12147)

 

 

Sounds of silence

Quando era criança, eu era uma nerd. Nos fins de semana, eu acordava cedo para ouvir os discos de música tradicionalista (quando morava em São Paulo), tentava entender aquele vocabulário estranho e, quando voltei à Porto Alegre, ficava ouvindo os discos estrangeiros de minha mãe — e tentando traduzir (é lógico que era um arremedo de tradução, ainda mais porque o dicionário bilingue disponível era do MEC, da década de 1950). Bem, daí veio minha paixão por música e por conhecer sobre música.

O primeiro disco que eu “traduzi” foi o da Tracy Chapman, que tinha dois hits “Fast car” e “Baby, can I hold you”. Eu odiava os hits, mas adorava todo o resto do disco. Logo depois, aos nove ou dez anos, “traduzi” “The concert in Central Park”, disco clássico do Simon & Garfunkel, que ainda hoje fazem um ou outro revival. Esse disco é muito bom, adoro, mesmo. Conheci folk ali e, se tenho algum apreço pelo estilo, veio dali.

Descobri a imagem poética através desse disco, cheio de hits, também. “The sounds of silence” é uma canção que me deu belas imagens poéticas — na época, uma descoberta muito interessante — e me permitiu perceber como poderia ser a experiência estética. Não que seja uma obra-prima, quer dizer, hoje não é mais para mim… Mas tem momentos, na canção, em que me sentia escutando sobre a alma.  Tipo, isso, para uma criança, é phoda.

Hoje estava com essa canção na cabeça e fui ver a letra, que não é tão mágica como me pareceu. É uma bela canção, é bem escrita, tem uma história bonita, só que a gente cresce e hoje não me diz tanto, quanto antes. Mas “The sounds of silence” foi um degrau muito valioso para que eu despertasse para a apreciação da arte.

“Hello darkness, my old friend,
I’ve come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.
[…]

When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.”

As frases “Within the sound of silence”, “And touched the sound of silence” e “Disturb the sound of silence” eram as que eu mais gostava, porque materializavam o que não é palpável. Então eu achava essa percepção muito bonita.

Enfim, deixo o link para quem gostar: