Criolo, uma descoberta

Vi domingo um programa da MTV chamado “Show Na Brasa“, eu acho. Nesse programa, tinha um cantor ótimo chamado Criolo. Eu tinha visto ele cantar uma ou outra canção no “Altas Horas”, mas fiquei muito surpresa com o repertório dele.

Criolo é um cantor com um timbre bem bonito e é muito, mas muito original no que canta. Suas letras são especialmente cuidadas e achei isso uma qualidade linda de seu trabalho. O que mais me pareceu interessante no Criolo é que nenhuma canção dele se assemelha a outra, apesar de ele ter vindo do hip hop e ter sua imagem associada ao movimento.

Enfim, recomendo que o povo saiba mais sobre esse cara tão talentoso. Deixo o vídeo de “Não existe amor em SP“, que não é sua melhor canção (eu acho que ela deveria ter umas guitarras sujas e pesadas no final, com mais pegada), mas é uma boa síntese de sua profunda interpretação aliada a boa letra e a uma canção interessante e diferente.

… mais um post de mais um blogue comentando o talento e a morte de Amy Winehouse

Desde sábado, escutamos um monte de críticas e pesares sobre a Amy Winehouse. Já li que o uso de drogas era uma escolha despida de maniqueísmos por parte dela, li que ela era uma viciada sem-vergonha, vi pessoas usando a vida de tabloide de Amy como contra-exemplo para vulneráveis ao uso de entorpecentes, enfim. Para agregar só mais um pitaco inútil, eu diria que, apesar da consciência sobre seu vício, Amy chegou em um momento de sua vida que a dependência psicológica pelo uso de drogas a deixou sem escolhas. Ela ficou tão dependente, que se conformou com a possibilidade de encurtar a vida. Vi, há alguns anos, uma entrevista em que Amy dizia que era uma suicida. O surreal desse fato é que a cantora assumia que estava entregue às drogas e ficou sem escolhas, a droga tirou as possibilidades da vida dela. Mas Amy já dizia isso em “Rehab“: além de se dizer entregue ao uso de drogas, ela assume que não quer melhorar.

É verdade que houve uma pressão midiática reforçando a imagem de Winehouse detonada. Mas ela sabia o quanto disso era circo e sabia o quanto do que ela vivia era verdade. A família dela também tinha noção. Os amigos participavam dessa vida cheia de excessos. O que faltou a ela? O que poderia ter evitado tudo isso? Ninguém pode responder.  A necessidade psicológica por drogas é um problema muito particular que não tem receita: há quem precise de clínica, há quem precise de apoio da família, há quem se salve com NA, há quem saia sozinho e há quem só cava o poço para baixo.

Mas e se — ironicamente — sua morte não estiver ligada ao seu abuso de drogas? E se ela caiu, bateu a cabeça e morreu com esse traumatismo? E se ela teve um infarto não motivado pelas drogas? Seria um deboche a todos — inclusive a mim — que ficamos estarrecidos com a morte prematura de uma suicida potencial, um grande paradoxo, claro.

Mas como cantora, ela foi indefectível. Lembro com muita nitidez a primeira vez que ouvi Amy Winehouse. Estava vendo MTV de tarde e, no meio de uma porção de clipes genéricos (e ruins), surgiu “Rehab“. Eu gostei da estética do clipe, mas fiquei mais surpresa com a criatividade da canção e com o timbre da Amy Winehouse. Foi uma experiência musical bastante peculiar, porque percebi que aquela canção tinha um frescor de ineditismo, uma fusão perfeita de coisas velhas e lindas e de coisas modernas e supernovas. Foi uma experiência estética muito interessante. E é importante lembrar que um talento como Adele não surgiria agora se não surgisse Amy antes. Adele que vá deixar uma cachacinha lá na porta da casa da Amy, porque deve muito a ela. Amy fez sucesso sem pares ou modismos. Isso significa dizer que ela não é parte de um movimento de canções genéricas, como funciona com pop-stars estilo Kate Perry, Lady Gaga, Britney Spears.

Tenho, ainda, um fato pitoresco sobre ela. Uma vez, no táxi, estava ouvindo “Rehab” e comentei com o taxista que a canção estava fazendo muito sucesso. Ele disse: “É, essa é a Amy House, né?” e eu confirmei. Daí, o taxista falou: “Eu escuto muito rádio e essa Amy House toca direto. A gente até já encheu o saco com esse ‘no, no, no‘, né? A música é boa, mas toca ‘no, no no‘ toda hora…” Desde então, em casa, eu a chamo de “Amy House“, porque, né?

Outro fato pitoresco é que, em todos os programas de TV que vi comentarem sua morte, tocavam, como música de fundo, “You know I’m no good“, que fez sucesso, mas que não era tão famosa quanto “Back to black” ou “Rehab“. Espanta-me isso, porque a letra dessa música era uma confissão de que o eu-lírico — nesse caso a própria Amy, porque ela escrevia com pessoalidade — não prestava. Pode ser uma coincidência ou, mesmo, uma tentativa de condescendência dos canais (será que tocar “Back to black” ou “Rehab” seria pior?). Mas falar da morte da cantora com a confissão de que ela não era boa tocando ao fundo, pareceu um pouco estranho, para mim, pelo menos.

Logicamente, não se pode julgar o talento de Amy usando fotos de tabloides. O talento artístico merece apreciação, não julgamentos morais. Em relação a sua vida, não nos cabe julgar e isso não é uma condescendência em relação a sua vida: é o fato de que ninguém pode mensurar em uma vida o que os tabloides tentavam descrever.