Feia, e daí?

Olá, amig@ feminista, sei que tu já vais dizer: “para com isso, o fato de não ser padrão não significa que você seja feia! se ame, você é linda!”. Entendo perfeitamente teu raciocínio e acho importante falar sobre isso com TODAS as mulheres. Todas somos lindas? Não. Somos fortes, interessantes, diferentes, uma infinidade de coisas. Bonitas, ou melhor, fisicamente bonitas, não. E tudo bem. Outro detalhe importante: esse post não é para pedir a vocês, leitores, elogio. Esse post é uma desmistificação da beleza como valor e vou usar meu exemplo para mostrar minha tese.

Minha primeira questão sobre o tema, para explicá-lo, é que beleza é uma seara muito particular. Se há padrões de beleza, eles são particulares e individuais; logo, não há padrão. O “meu” padrão para definir o que é bonito é bem fora da expectativa do senso comum. O Bon Jovi velho, com rugas e cabelos brancos me parece muito mais bonito e interessante aos olhos do que ele quando jovem, por exemplo. E não tenho interesse por grisalhos (ou quase nunca). E não estou considerando que, na juventude, ele usava roupas de metal farofa (hoje consideradas bregas para car***o). Estou dizendo que as feições atuais parecem mais naturais e harmônicas e acho isso bem bonito.

Falando sobre mim mesma: sim, me incomoda ser gorda. Sim, me incomodam meus traços. Sim, há vezes que gosto deles, mas são poucas. Sim, me maquio eventualmente e acho que muitas vezes a maquiagem melhora — afinal é para isso que ela existe. Se tu me conheces, pode discordar das minhas opiniões. Já expliquei que o julgamento de beleza é intangível. Acho que lidar com isso — me acho feia, mas gosto de mim — pode causar estranhamento, mas entenda o ponto de vista. Há algumas coisas que posso fazer para melhorar meu aspecto para mim mesma (estou fazendo exercícios regularmente e cuido minha alimentação, por exemplo, embora não ache que ser gordo ou magro sejam questões necessariamente ligadas à beleza física), mas o aspecto geral não me torna bonita, ou não me sinto bonita. Devo dizer, ainda, que não há complexos em ser feia, ou em não ser bonita. Nunca tive problemas para me relacionar ou nunca fui complexada com minha figura, seja para flertar, seja para ir à praia (dilemas tão difíceis para as meninas de outrora e de hoje).

Não gostar dos seus traços é uma questão de… gosto. E só. Para mim, para meus padrões, há uma gradação que vai dos extremos: de lind@ a horrível. Acho que isso é comum a todo mundo. No meio da minha classificação virtual, está o limbo, de pessoas normais, que não chamam atenção por nenhum dos extremos. É lógico que uma pessoa legal, divertida, aprazível vai ficando mais bonita à medida que convivemos com ela e o contrário também pode ocorrer. Mas na minha classificação virtual, fisicamente, estou no limbo para mais feinha. Me sinto até normal, embora com pouca harmonia. Acho que sou bem na média e, conseguindo comprar roupas que combinem (como encontrar uns vestidos frescos no verão e uns casacos interessantes no inverno — veja bem, isso nem sempre foi fácil), está de bom tamanho.

As vezes que me sinto mais bonita ou menos feia não têm relação com a roupa que visto, por exemplo. Já me senti melhor vestindo só moletom (ou andando como uma mendiga em casa) ou com jeans e camiseta, quase sempre de cara lavada. Quando vou a festas, me maquio e uso roupas de festa, mas aquela não sou eu. Não me reconheço ali. Pode ser que às vezes fique melhor do que seja naturalmente, pode ser que não. Bem, percebe-se que a vaidade não é minha marca. Mas a vaidade também não é condição para beleza ou para feiura. Em geral, a vaidade acaba sendo uma forma extra de cuidar de si, seja física, seja emocionalmente. A vaidade pode mudar a percepção que uma pessoa tem de si, mas, honestamente, conheço poucas pessoas que ficam muito mais bonitas porque são vaidosas.

Há algumas coisas em que me sinto muito bonita. Assim, como pessoa, sou imodestamente muito bonita. Acho que tenho empatia, que sou amiga dos amigos, que não meço ninguém pela minha régua, que sou acolhedora, que sou humana, que sou espirituosa, que sou humorada e um pouco piadista. Claro que nem tudo sempre, mas penso que sou assim, como descrevi, em muitas ocasiões na vida. Não sou essencialmente humilde, mas não me vejo melhor do que ninguém. Acho que tudo isso me faz bonita. Não fisicamente bonita, mas bonita. Não sou vaidosa com o que é palpável, mas sou orgulhosa da vida que levo. Essa beleza não física tampouco é tangível, é um jeito de ver beleza com um olhar particular, ora, como se vê qualquer beleza. Aqui não é uma compensação de mim comigo mesma, é uma forma de se julgar, apenas. Neste caso, é minha forma particular de avaliar minha beleza particular. Há pessoas lindas por dentro e por fora, há o contrário e há uma infinidade de possibilidades entre esses dois extremos.

Olhar fisicamente pessoas bonitas, lógico, é super bom. Pessoas bonitas são fisicamente interessantes e isso, para mim, não está diretamente ligado a flerte ou a sexualidade. Já vi homens lindos, de parar para ficar admirando, mas que não me via nem chegando perto para ser amiga, porque o interesse era apenas plástico. Uma pessoa bonita pode ser tão plástica e artística como uma obra do Picaso (sem piadas cubistas, por favor), uma sinfonia de Beethoven, uma peça de Shakespeare, um solo de Pepeu Gomes.

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