Ser adulto é ser inteiro e é ser feliz (ou tentar, pelo menos)

Esse texto é inspirado no texto do Piangers desse fim de semana. O texto AQUI.

Sempre digo para as amigas que querem um relacionamento (e não têm) que a culpa não é delas. Elas me olham meio virado. Acredito que, sim, uma parte das escolhas erradas é quem topa uma relação meia boca e que elas podem ter alguma responsabilidade, talvez, em não ter uma relação legal. Mas e o outro lado? E quem não é por inteiro?

Prefiro um amigo ou uma amiga sofrendo de solidão do que apoiado em um relacionamento que esteja capenga, que seja para não ser solitário, que tente tapar uma carência afetiva ou que se mostre, ao longo dos anos, como única opção possível (porque a pessoa já não conhece outra forma de viver). Ser solitário num relacionamento é uma grande derrota. Amar por dois é uma estupidez. Há muitas relações em que as pessoas parecem pela metade: não podem ser quem são, não fazem o que querem, acatam a vontade de outro em nome do tempo juntos ou do patrimônio que de alguma maneira organizaram (é difícil se separar do outro, descobrir a si mesmo, depois de filhos, gatos ou empresa montada, não é mesmo?).

Uma grande parte dos meninos (e um número grande de meninas, também) não entra em relacionamento, “superficializa” a relação. Há, por outro lado, uma porção de relações fortes e profundas que nunca foram chamadas de relacionamento, inclusive. Mas, de forma geral, os meninos podem fazer o que querem sem serem pressionados, até vendo vantagens maiores na vida de solteiro (individual) do que na vida dividida (VIDA DIVIDIDA: morar com amigos, ter relacionamento, viver num poliamor, etc.). Há muitas vantagens na solidão — não há dúvida — mas esse estilo fast food de ser solitário e comer qualquer coisa fácil é um modo de vida (de homens e mulheres) já consagrado. Tem sido, na maior parte dos casos que vejo, uma escolha comum de homens e uma resignação comum de mulheres.

Por um lado, mesmo as pessoas que estão em relacionamento parecem resignadas, sem muita voz, numa dupla opressão. Por outro lado, também muitas pessoas sem relacionamento parecem resignadas, sem muita voz, esperando um amor de filme — que não existe. É verdade, em casos heterossexuais (os que mais conheço), que as meninas estão mais superficiais, tentando se parecer aos meninos. E os meninos, que ainda não se resignaram numa relação, estão ainda mais superficiais, sem querer ser adultos. É feio dizer isso, mas embora os casais da minha infância e adolescência não fossem (ou parecessem ser) tão felizes quanto alguns casais que conheço hoje, também não lembro de achar que houvesse tanta gente infeliz, oprimida e superficial nos relacionamentos, como vejo agora. Pode ser só um ponto de vista pessimista.

Mas acredito que o que o Piangers diz no texto anexo é um pouco disso: nossa geração não quer ser adulta. Ser adulto é tomar a decisão de ser feliz ou ir tentando ser feliz a medida que dá. Ser adulto é assumir riscos. Ser adulto é fazer escolhas. Ser adulto é assumir as escolhas não feitas. Ser adulto é pagar contas e também guardar dinheiro. Ser adulto é se comportar como dono do seu nariz. Ser adulto é respeitar a pessoa que tu só quer por uma noite e fazer dessa noite espetacular — porque tem de ser bom para si mesmo. Ser adulto é escolher se relacionar se a pessoa vale a pena e é dar o passo em falso, para errar de novo e tentar outra vez ou para desistir para sempre. Ser adulto é tentar cultivar amores e amizades, tentando cuidar do que lhe cabe. Ser adulto é saber começar. Ser adulto é saber terminar. Ser adulto é se esforçar para recomeçar.

Piangers fala das “frutas ruins do mercado” e ele que me permita ampliar esse mercado, porque temos uma pá de gente que não sabe ser adulta. No caso do texto dele, é claro que há milhares de mulheres incríveis que escolhem homens ainda infantis e ele bem observa da imensa dificuldade em se relacionar aí. E não é culpa da mulher. Mas manter uma relação incômoda, viver desconfortável e aceitar isso é falta de maturidade para levar sua vida sozinha. E não é o homem que faz a menina imatura.

Para ilustrar esse texto, deixo para vocês algumas frases que me ajudam a pensar todas as vezes em que me sinto dependente, em que preciso escolher ou quando não acho que sou dona de mim:

“I know I was born and I know that I’ll die / The in between is mine / I am mine”
(Eddie Vedder)
(“Eu sei que nasci e sei que vou morrer / O que existe no meio disso é meu / Eu sou meu“)

“I can’t get a life if my heart’s not in it”
(Noel Gallagher)
(“Eu não posso ter uma vida se meu coração não estiver nela“)

“Caminante, son tus huellas / el camino y nada más; / Caminante, no hay camino, / se hace camino al andar.”
(Antonio Machado)
(“Caminhante, são tuas pegadas / o caminho e nada mais; / Caminhante, não há caminho, / se faz o caminho ao andar.“)

peterpancomplex