Ser feminista é uma urgência

Lá venho eu, (veja bem) de novo, escrever sobre o feminismo. E sempre escrevo como um fenômeno social e conjecturo e discuto como se ele tivesse a ver comigo, mas em tese. Não. Hoje vou escrever porque o feminismo é para mim, pessoalmente, é para me proteger. Sou feminista porque sou egoísta.

Queria escrever sobre o caso da Fabíola (que é óbvio que não assisti o vídeo e não tive maiores informações além de notícias), que é uma violência à mulher e, mais do que isso, a sua honra, já que ela foi denegrida nacionalmente, numa situação que poderia ter sido resolvida em família, com todas as dores e julgamentos que cabem, mas que não dizem respeito à vida social dos envolvidos. Aliás, ela e o homem que estava com ela eram comprometidos, mas ninguém sabe o nome do outro, só da Fabíola. Que merda. Mas hoje não vou defender a Fabíola. Não quero saber dela.

Quero saber de mim.

Uma pessoa próxima está sofrendo violência porque teve um relacionamento abusivo com um homem ignorante. Da relação, um filho. Desde o começo do namoro até hoje (separados há muitos anos), uma relação abusiva na potência dez. A mulher tenta reconstruir sua vida, mas vive com medo. Encontra outro parceiro — que não desenvolve um afeto totalmente saudável, mas ok, ele não a machuca fisicamente e isso já é vantagem — e esse parceiro não pode ter uma história linear com a mulher, porque afinal há um troglodita que pensa que pode mandar nela, que ela não deixou de ser sua propriedade.

É o horror. É O HORROR! Quem vive em volta, teme pela criança. Teme pela mulher. Teme pelo deboche que o homem tem da justiça. Teme o tempo inteiro e não consegue relaxar, porque a violência física, psicológica e simbólica rondam a mulher, a criança e as pessoas próximas. Mais triste é o quanto as pessoas julgam a mulher: “deveria ter feito isso”, “não poderia admitir aquilo”, “esperou tempo demais para entender que o relacionamento era abusivo” — e é lógico que todos estão certos — mas nada anula a doença da pessoa que acha que pode tratar a mulher como um ser humano inferior. Essa doença tem de ser combatida, denunciada, afetada. Nenhuma mulher tem de viver sob esse jugo, não importa o que tenham feito ou o que tenham negligenciado. Nenhuma, por mais errada que esteja, por mais vadia que seja, por mais mentirosa que seja. Nenhuma.

Fiquei chocada com a história da menina que foi estuprada por trinta homens no Rio. “Ah, mas ela era usuária de drogas”, “ah, mas ela tinha filho”, “ah, mas ela foi para o lugar onde esses meninos estavam” e não há nenhum “mas” que motive o estupro e a difamação da menina na internet. Ela poderia ser puta e poderia ter uma vida vacilante, isso não importa. Os problemas dela não explicam o estupro físico e simbólico. Ela foi violada porque existem violadores e o feminismo quer que violadores não existam.

Esses casos são extremos e, apesar disso, são comuns. Quase todos os homens que conheço já denegriram a imagem de uma mulher em algum momento, tenham saído ou não com ela. Quase todos julgam negativamente e em público, seja pela roupa, pela vida pregressa, pela forma que fala. Isso é ser abusivo e esse é o primeiro passo para que o violento exista. O exagero aparece onde a doença é naturalizada.

Que o caso próximo a mim e o caso do jornal sejam resolvidos com mais feminismo, o que significa mais igualdade e menos relação de poder. Que a gente fale mais sobre isso para conscientizar homens e mulheres e que todos entendam que são iguais em direitos e deveres.

Que eu pare de escutar esses casos. Que eu pare de viver no meio disso. Que isso pare de me afetar, porque é difícil. É difícil se sentir insegura e vulnerável, por uma escolha que sequer fiz: ser mulher.

fear

Autor:

Dinda, tia e "sora". Uma mulher ordinariamente comum, que tem qualidades simples e defeitos reles.

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