Hoje eu li um artigo do El País que dizia uma coisa bem interessante: “Para se apaixonar por qualquer um, faça isso” [AQUI, na versão original]. Só de ler o título, o povo já pensa bobagem, desde “Oba, vou desencalhar facim” até “Não me meta nessa psicologia barata de jornaleco”. Como pensei nas duas bobagens — e nas variações entre os extremos — achei que valia o click e li.
A autora, Mandy Len Catron, explica como usou um experimento que promete amor fácil em sua vida. É bobo, mas ela faz alguns insights interessantes sobre as relações humanas. Primeiro, ela conhecia o desconhecido (o que o experimento não sugeria), embora só conhecesse, mesmo, não tinha nenhum tipo de proximidade. Depois, ela foi cheia de curiosidade científica sobre o experimento (vai saber qual era a intenção do outro, não é?) para saber se, POW!, o amor acontece. O experimento sugeria que o casal se fizesse 36 perguntas (que iniciavam de forma genérica e evoluíam para perguntas bastante pessoais) e, depois, se observasse, em silêncio, por quatro minutos, se encarando, mesmo. O fato é que estão namorando e blablabla whiskas sachê (para quem quer encurtar a história). Como na maior parte dos textos, o que me interessou nesse foi justamente o conjunto de observações que a pesquisadora fez, detalhando suas reflexões sobre esse desconhecido, o amor.
Se meu texto não te interessa mais, beleza, podes imprimir as 36 perguntas e ir à luta [AQUI as 36 perguntas].
Se ainda estás dispost@ a saber minhas considerações sobre o amor, ou a explicação, enfim, do título, senta aí, que vamos continuar a brincadeira. Mas com um pouco mais de prolixidade (sou eu, afinal).
Vamos começar com uma premissa: ao contrário da garota escrevente ao longo desse artigo, o amor, para mim, é necessariamente algo maior do que uma relação de casal; isso significa dizer que vou falar de AMOR(ES), porque amamos muito e amamos muit@s.
A primeira reflexão que a garota encontrou sobre o experimento é que o amor é ação. Ela disse isso em função de que havia uma predisposição dos dois em avaliarem o “experimento” e que a curiosidade e a vontade de se relacionarem com alguém motivou a ação do amor. Nesse sentido, o amor é voluntário, eles foram buscar conscientemente, com suas escolhas, o amor. Se apaixonaram porque quiseram.
Ao longo das perguntas e respostas do experimento, ela se deu conta de que, em pouco tempo, o nível de intimidade era alto e os dois se comportavam como adolescentes, ou seja, sem filtros. Parece que a falta de abertura que temos é, pouco a pouco, imposta pela idade e, pela minha observação, nossa tendência é limar a possibilidade de se dar a conhecer e de ser generoso e acessível aos demais. O estudo também sugere que, em algum momento, as duas partes envolvidas revelem três coisas que agradaram no outro, ou ainda, sugere que exista admiração, mesmo que provocada.
É lógico que ela se deu conta que eles “pularam etapas” de forma rápida, mas isso favoreceu o surgimento do relacionamento. No texto, a parte mais bonita é quando ela descreve o olho-no-olho, falando que as pupilas emocionam (e colocou o cronômetro, para fechar os quatro minutos do experimento). O sentimento dela é assim descrito: “Me sentí valiente y en un estado de asombro“. O cronômetro tinha motivo: olhar nos olhos aterroriza e, provavelmente, não haveria quatro minutos nessa brincadeira silenciosa — eu diria até que, num suposto caso brasileiro, as perguntas poderiam ser reduzidas pela metade e o olho-no-olho poderia ser de trinta segundos, já que (parece que) temos mais facilidade de nos apaixonarmos.
Agora, falando sério e retomando esses entendimentos de Dona Mandy, quando olhamos nos olhos? Quando nos damos a conhecer? Em geral, nos vejo como bobos, estúpidos e medrosos, em se tratando de nos mostrarmos abertos aos amores da vida. Somos, quase todos, aquela canção do Erasmo, “Minha fama de mau”. De outra forma, parece que nos enchemos de filtros ao conhecer as pessoas ou a medida que vamos ficando mais velhos. Não importa se nas relações de casal, de amigos, de família, de colegas; temos de ser duros na queda!
Cabe ressaltar que não sou exemplo para ninguém e, por ser meu blogue, faço minhas considerações sobre uma leitura reduzida às minhas experiências e absolutamente parcial. Vale dizer, ainda, que, para mim, todos os afetos são potenciais amores, embora poucos desses afetos tenham pesos e profundidades. Mas prefiro chamar de AMOR mesmo, porque as outras nomenclaturas estão (ainda mais) banalizadas e o AMOR ainda conta com um quê de sagrado (“está sacramentado / em meu coração“, como diria o Djavan).
Pessoalmente, sou bastante afetiva e, como qualquer pessoa, tive alguns reveses e acabei tentando manter minha fama de má. Com um pouco mais de idade, decidi ser honestamente eu, o que já era bem difícil. Embora ainda um pouco reticente, tento fazer com todas as pessoas que conheço o que diz o artigo de nossa querida Mandy: “esa especie de intimidad acelerada que recuerdo del campamento de verano […]. Con 13 años, […] parecía natural conocer a alguien tan deprisa”. Em outras palavras, tento me dar a conhecer e mostrar às pessoas que elas parecem divertidas (sim, pessoas bem-humoradas me fazem um bem!), legais, admiráveis, amáveis e isso é alegria para mim. Esse é o primeiro passo para qualquer amor, com qualquer pessoa que venha a fazer parte de minha vida.
É lógico que algumas vezes as pessoas confundem minha falta de filtros (ou simpatia gratuita) com puxa-saquismo barato e fogem de mim. Mas depois penso que, se não é para compartilhar, que não fique mesmo. Quero pessoas que não tenham medo de pessoas e que não tenham medo de ser gente. Às vezes, a falta de uma ou outra pode ser cruel, mas estar de bem consigo ainda é a melhor experiência de vida, pelo menos para mim.
Enfim, acho que o amor é fácil (e o experimento prova isso), mas as pessoas não.