Tchau, MTV!

Vi os últimos suspiros agonizantes da MTV nesse fim de semana e algumas sensações estranhas me ocorreram.

A primeira sensação estranha foi a histórica: onde todo aquele material de música e cultura vai parar? Fiquei meio perdida com a impressão de que há uma fonte inesgotável de cultura ali, naquele almoxarifado e que não sei se vai para algum lugar. Há uma porção de gente bem mais preocupada com isso do que eu, vi até uns manifestos na internet. Mas ter a sensação de que um pedaço de cultura registrado, televisionado e catalogado está perdendo seu lugar é meio chato. Bem, alguém vai decidir o fim disso e espero que seja o melhor.

A segunda sensação estranha foi ver os VJ’s velhos. Não os ex-VJ’s, exatamente. Foi ver que eles estão velhos. Estão aí o Gastão, o Thunder e a Astrid que não me deixam mentir. O Gastão ainda dá um caldo, é verdade, mas ver que eles envelheceram significa dizer que já não sou mais uma adolescente vendo clipes. O óbvio nunca nos aparece a olho nu. Bem, pensar nos VJ’s velhos é pensar que toda a formação e dedicação enciclopédica que tive em cultura pop e rock foi feita através dos olhos da MTV, especialmente dos olhos do Reverendo Fábio Massari, do Rodrigo PFunk, do Léo Madeira, do Edgard, da Soninha e, claro, do Gastão. Não que eu tenha melhorado muito como pessoa ou me tornado uma erudita, bem capaz, mas saí do limbo da ignorância, o que já é um alento.

É meio triste ver aquela “festinha da firma” (tem de ler “firma” com o R de paulista da zona leste, por favor, para ter o significado desejado) sendo o último suspiro. Desde essa festinha da firma, não haverá mais nenhuma televisão que fomente o vídeo-clipe, o conhecimento da diversidade musical e o reconhecimento do rock e do alternativo do Brasil. É verdade que nos últimos tempos essa abordagem rareava mesmo na MTV, mas nenhuma outra emissora o fez e não há indícios de que alguém o fará.

Eu descobri Eric Clapton, Rolling Stones, Chuck Berry, Mundo Livre S/A, Criolo, Los Fabulosos Cadillacs, Cafe Tacvba e uma infinidade de sons através da MTV. Depois, através da revista Bizz (ah, tu te lembra?). E, agora, através da internet, que é um buraco negro sem fundo de informação e busca de banda nova. Sem MTV eu não conheceria o grunge, o punk e boa parte do que conheço de música brasileira. Eu não chegaria nesses nichos se não houvesse MTV. É lógico que esse parágrafo egocêntrico é só para dar um exemplo (casualmente pessoal) sobre a influência da MTV na geração nascida na década de 1980. A MTV nos tirou dos Menudos e do New Kids on the Block. Tudo bem, nos levou até o N’Sync e até os Backstreet Boys, mas ela tinha muito mais. Muito, muito, muito mais.

grunge

Então, ver a MTV acabar (tá, vai ter outra MTV e o escambau, mas será OUTRA coisa) é meio que ver um cinema fechar ou uma biblioteca pegar fogo. Não vai mudar a minha vida, mas é um veículo disseminador de cultura e entretenimento muito bacana que se vai.

Tenho duas anedotas (não engraçadas) sobre a MTV e eu. Uma vez, aos 12 anos, vi a estreia do clipe do Mamonas Assassinas, o “Vira-vira” (é assim o nome da música?). E achei suuuuuper radiofônico e eu tinha certeza de que aquilo seria sucesso. E foi. Mas muito tempo depois, achei engraçado uma garotinha de 12 anos ter noção sobre o que poderia um dia talvez vir a ser uma tendência e sobre esse tipo de canção humorada. Acho muito legal esse nicho, até hoje.

A outra anedotinha é sobre a primeira vez que escutei Amy Winehouse, na madrugada da MTV — aliás, a madrugada da MTV era o ouro. Estava quase indo para cama, mas decidi dar uma chance para a “casa do vinho”.  E fiquei chocada: o som era tão novo e tão velho e tão bom e o timbre era tão interessante. Quase uma epifania. Nessa época, nunca tinha ouvido falar sobre a Srta. Amy. Mas, pelo clipe, vi que a guria era uma joia rara e uma suicida, daí pensei “tomara que alguém dê um limite para essa menina, pelo menos para ela deixar uns discos por aí e uns jazzinhos bacanas”. Ela abriu espaço para a Adele e para a Duffy existirem. Mas, ao escutar a guria da “casa do vinho”, sabia que tinha me deparado com uma coisa muito nova, muito potente e, o mais importante, com ARTE. E nunca chegaria à Amy sem a MTV.

Então, acho meio triste a MTV acabar, porque acho triste ver um dos motivos mais legais de ter sido adolescente se perder. A gente quer ser eterno e ter pedaços de nossa juventude conservados — é por isso que se tem filho, de certa forma. Agora sou tão adulta que nem MTV tem mais!

Tchau, guriazinha. Tchau, MTV.

Autor:

Dinda, tia e "sora". Uma mulher ordinariamente comum, que tem qualidades simples e defeitos reles.

3 opiniões sobre “Tchau, MTV!

  1. Olha, Nina, acho que deixei de assistir MTV antes de você… Mas lendo teu relato, me recordo das coisas que conheci neste canal. O pessoal lá tinha um faro ótimo para esses sons novos!

    PS: só não concordei com o sotaque da ZL 😛

  2. O valor cultural e artístico do rock é nulo, porque é um mero produto da indústria cultural. E, cultura de massa por cultura de massa, é melhor mesmo que feche a MTV, e mais espaço seja dada à produção nacional (programa do Faustão, do Gugu &c), porque, lixo por lixo, melhor dar espaço ao lixo nacional, que ao menos gera imposto e empregos.

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