Fórum Social Mundial

Descentralizar é dispersar?

O FSM, esse ano, será em Porto Alegre e região metropolitana. É um evento que discute o rumo e as ações das esquerdas. Sempre que fui, nas edições de Porto Alegre, participei de debates enriquecedores, como ouvir Danielle Mitterrand, Boaventura de Souza Santos, José Saramago e Eduardo Galeano. O FSM não distingue a esquerda braba e inconformada da esquerda que pensa e é feliz. Isso é excelente e péssimo, ao mesmo tempo. Excelente porque discute várias esquerdas e mostra as nuances que realmente existem dentro da esquerda — e que para a sociedade comum pode ser que nunca apareçam. Péssimo porque sou obrigada a ouvir palavras de ordem para o Stédile, quando gostaria de tentar absorver algum comentário de outro intelectual. Não sou contra que haja o Stédile, não acho que a esquerda (????) que ele diz representar não deva se manifestar, mas não tenho saco para baderna, pessoalmente.

Quer dizer, o ranço em relação às palavras de ordem nas esquerdas tem fundamento. E até eu, que sou de esquerda, acho isso muito chato. A própria direita se usa desse comportamento de oposição, essa coisa de amor pelas palavras de ordem, essa atitude “avante!” para agilizar suas campanhas. Um saco. Para mim (e só para mim!), que fique claro, isso é chato. Não que eu seja contra comício, essas coisas, mas eu sou contra o discurso vazio, sem proposta. E sou realista o suficiente para saber que um bom comício não é feito de propostas, exatamente. Enfim.

Mas o FSM é um momento muito importante para as esquerdas, em que se abrem as forças e os focos. Onde a esquerda vai ganhando identidade para não ser a mesma filosofia datada, como é o marxismo. Não se deve menosprezar, com isso, toda a contribuição do Marx, mas é importante ler o marxismo no seu contexto e, para transpor suas ideias espera-se, no mínimo!, contextualização. Bem, e não é toda a esquerda, nem todas as pessoas do FSM que estão dispostas a isso.

É óbvio que existe interesse partidário no FSM. Em qualquer evento existe. Ou o Fórum da Liberdade é feito pelos e para os partidos de esquerda? O ideal, sempre, é sediar um evento no lugar menos inóspito. Mas Porto Alegre, que “sedia descentralizadamente” o evento, está cada vez menos esquerda, característica que durante muito tempo se orgulhou de ser. E esse “jeito menos esquerda de ser” acaba aparecendo no dia-a-dia da cidade, para o bem e para o mal. De tal sorte que a cidade nem é conhecida por Fórum nenhum, nem é referência para coisa nenhuma, no exterior. Tu conheces Porto Alegre porque é sede de algum fórum, por acaso?

Sobre o Fórum Social, deixo as dicas de como se informar a respeito:

vídeo sobre o evento

site oficial

o que é o FSM?

E um link que realmente vale a pena para quem estiver por aqui:

shows do Fórum Social Mundial 2010