E-mail enviado hoje para o SBT Rio Grande

Costumo assistir ao telejornal SBT Rio Grande, apresentado por Cristiane Finger, sobretudo pela escolha das matérias, pela própria apresentação das reportagens e por haver busca de isenção nas reportagens. Quando Cristiane Finger faz um comentário, em geral está em consonância com a maior parte dos telespectadores, o que causa certa cumplicidade positiva para o programa.

Porém, hoje, ao exibir a reportagem com Mariza Abreu, secretária de estado da Educação, foi mostrado o quanto o Estado reclama dizendo não poder pagar o salário mínimo nacional para os professores. O argumento da secretária seria algo parecido com “o Governo Federal não tem direito de se envolver nas finanças estaduais”. Infelizmente, a secretária não deixou claro na reportagem que não é apenas a aplicabilidade do salário, mas sim, a lei toda, que complica a vida do nosso Estado. Porque o grande problema — além do aumento propriamente dito — é o regime de trabalho que muda. O valor de 950 reais é referente ao trabalho de 40 horas semanais, sendo que dessas 40 horas, 1/3 é fora de sala de aula. Atualmente, o Estado obriga 40 horas/semanais em sala de aula. Esse 1/3 fora de sala de aula é uma reivindicação antiga, já que o trabalho do professor não se resume a dar aula e, sim, corrigir, preparar e avaliar seus alunos, além de reuniões periódicas; trabalho, esse, que não é feito em sala de aula, necessariamente.

O comentário de Cristiane Finger, apesar de bem pensado e ponderado, acabou contribuindo para que o telespectador não considerasse a questão antiga do professorado. Em outras palavras, Cristiane disse que mesmo que um salário justo seja necessário aos educadores, não é no canetaço que essa situação se resolveria. Tomo a liberdade de discordar, pois não foi posto, infelizmente, que essa reivindicação salarial é muito antiga e que o Estado negligencia os professores há muitos anos (tanto do ponto de vista salarial, como do ponto de vista de condições de trabalho). Todas as secretarias de Estado participaram ativamente do debate da implementação da lei e de todos os trâmites para que a lei fosse sancionada. É triste ver que o canetaço precisou existir para dar a dignidade mínima de 45% de aumento nos salários dos professores estaduais (segundo a própria reportagem). A reportagem pecou em não contar que o nosso Estado perde apenas para o Sergipe em piores salários estaduais e que o Governo Federal confirmou o auxilio às secretarias que não tivessem verbas disponíveis no pagamento do mínimo nacional para os professores (a Governadora se manifestou sobre a falta de recursos apenas ontem).

A vergonha, mesmo, ao longo da reportagem, foi da Dona Mariza Abreu, com um cinismo politiqueiro, dizer que o Governo Federal nada tem de se envolver com relações de trabalho dos estados. Como se não houvesse leis federais que os estados devem respeitar, desde que a Constituição existe. Em nenhum momento aparece a boa vontade do Estado em resolver a questão prestigiando seus professores; ao contrário. Como professora, sinto-me envergonhada e lastimo profundamente o que tenho visto e lido sobre a valorização do professor nesse Estado, nas palavras da secretária de Educação. Pergunto-me freqüentemente: onde e quando fomos o Estado considerado o mais culto da federação?

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E a minha parte para xaropear vou continuar fazendo!

Como diria o Chico:

“que eu me organizando, posso desorganizar/ que eu desorganizando eu posso me organizar”