Eu comprei a Caros Amigos do mês de janeiro de 2008, em função da entrevista de capa, que é do Luis Fernando Verissimo.
A Caros é uma revista tradicionalmente com pensamento de esquerda. Ou dos que remam contra a maré. Eu nunca tinha comprado essa revista, mas já tinha lido “algumas várias” matérias. Geralmente, não concordo totalmente com o teor da crítica deles; não pela crítica, em si, mas porque alguns colunistas não fazem argumento convincente e há alguns textos bem mal escritos. Daí eu fico um pouco mais preocupada com a esquerda brasileira, já que para criticar é preciso, também, dialogar…
Para exemplificar a questão do “mal escrito”, cito a entrevista com Manu Chao. Essa entrevista é horrível para o sujeito que vai ler. O Manu Chao não fala bem português (o que não deveria ser um problema…). A transcrição, portanto, deveria tornar mais palatável o que o artista disse, já que ele não fala português padrão. Pois é, não houve boa transcrição (tipo, frases longas sem verbo…). Além disso, colocava entre parênteses alguns dados do contexto que pouco ou nada tinha haver com o que Manu Chao estava dizendo. Daí, a frase seguinte do cantor não tinha conexão com a frase anterior, nem com o parênteses de contexto. Um horror! Eu precisei reler várias vezes para não encontrar sentido algum na totalidade da entrevista. Mesmo assim, entendi num pé de página que ele tinha vindo ao Brasil para divulgar o novo trabalho, chamado La Radiolina, que parece que vai muito bem, obrigado e eu quero ver qual é desse disco aí! (Já tem música de trabalho, chamada Me llaman calle, que dá para conferir no YouTube.)
A outra entrevista, que me motivou a comprar a revista, foi excelente. Luis Fernando Verissimo é tímido demais e odeia dar entrevistas. Então, ele decidiu fazer a mesa redonda dos colunistas por e-mail. Respondeu todas as perguntas, com absoluta clareza e um humor impagável.
O Verissimo fala muito da questão política, nessa entrevista, enfatizando que o Governo Lula não é a salvação, está muito longe disso, e que não representa a esquerda, de fato. Mas, da mesma forma, o Governo Lula não agrada a direita, porque está dando certo. LFV fala sobre a diminuição da desigualdade no Brasil no Governo Lula — o que penso ser louvável, ainda que se precise de pelos menos uns trinta anos para que essa desigualdade esteja em níveis aceitáveis. Outra frase interessante do caro amigo aí da foto é a de que, antes de Lula, os presidentes brasileiros aumentaram as injustiças e desigualdades sociais sem cometer nenhum erro de concordância.
Eu acrescentaria, se fosse o Verissimo, o fato de que, pela primeira vez, um governo brasileiro estabelece metas com a Educação, fazendo valer uma prova nacional de avaliação e apontando um Plano que direciona objetivos com a Educação nos próximos anos. E o fato real é que todos os países que cresceram economicamente colocaram dinheiro e trabalho na Educação e Saúde de seus habitantes.
Gostei muito da sinceridade das respostas do Luis Fernando Verissimo, do seu posicionamento em relação a política da América Latina e do Brasil, de todo o cuidado com o que representa a obra de seu pai. Eu não tenho dúvidas de que ele é um dos maiores intelectuais contemporâneos do Brasil e — apesar de conhecer muito pouco a literatura mundial — vejo-o como um dos maiores cronistas modernos. Seu texto é sutil, absurdo e irônico na medida certa. Adoro seu humor e acho que um de seus maiores méritos é ser elogiado pela massa (pois vende muitos livros) e pela academia, ao mesmo tempo. Além disso, ele escreve mais de duas vezes por semana em jornais de circulação nacional, o que mostra diariamente seu fôlego e seu exercício criativo.
Vale a pena procurar na internet seus textos. Mas não caia no texto chamado Quase. Apesar de várias pessoas elogiarem LFV por esse texto, não é dele!
Ainda assim, eu estou numa dúvida bem pessoal: em 2010, quero o Suplicy ou a Dilma? E tu, vais votar no Arthur Virgílio? 😉
Boas leituras, caros amigos!
Eu vou de Dilma!
Mas antes, vou mesmo elogiar teu texto que dialoga com o cara mais genial do gênero depois de Bernard Shaw.
Luís Fernando Veríssimo é um dos poucos grandes escritores, ainda que não seja o mais original, em termos de Literatura Mundial, certamente é um dos representantes, na minha opinião, dessa seleta galeria.
Um grande abraço e que escrevas mais, para que contemplemos as palavras, as belas palavras…
Abração!